As armações de atum no Algarve
A visão literária de Raul Brandão, Sousa Costa e Manuel Teixeira Gomes
Resumo
A pesca do atum foi desde a Antiguidade até, pelo menos, à década de 70 do século XX, uma das grandes riquezas da região do Algarve. As armações de pesca colocadas anualmente em alto mar frente à costa algarvia, tiveram um significativo impacto político, económico, ambiental e social nesta região. Estas incentivaram a deslocação sazonal de grandes massas humanas para a linha de costa, onde construíam pequenas aldeias – arraiais – para dar apoio à pesca. A influência e beleza desta pesca ficaram registadas não só na documentação histórica, mas também em produções artísticas e culturais como na pintura e na literatura. Serão considerados os relatos de viagem de três autores, através da análise do conteúdo das suas obras que enquadram a sua experiência de observação da captura de cardumes de atuns em armações fixas na década de 1920. Os verdadeiros labirintos de redes, boias e âncoras que aprisionavam estes animais durante a sua migração biológica entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo e também depois no seu regresso ao Oceano, foram o cenário das suas observações e narrativas.
Os textos de Raul Brandão, Sousa Costa e Manuel Teixeira Gomes serão apresentados a partir das Humanidades Azuis, que consideram nas obras literárias as relações entre as sociedades humanas e o resto do mundo natural. Esta abordagem permite-nos revisitar um Algarve de outrora, em parte absorvido pelas construções no litoral e as consequências do turismo e da pressão imobiliária a que a região tem estado sujeita nas últimas décadas, no qual a relação entre as pessoas e o ambiente costeiro é o centro da história vivida e contada.
Direitos de Autor (c) 2023 Brígida Baptista
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Artigo aceite em 2023-12-20
Artigo publicado em 2023-12-20