Estado de desconfiança. Violência, aplicação da lei e conspirações no poliziottesco italiano
Resumo
Este artigo explora o filone do poliziottesco (thrillers policiais italianos) para documentar sua contribuição para o debate nacional sobre violência política, criminal e institucional no início da década de 1970. Investiga a representação da polícia e do poder judicial em filmes que apresentam conspirações dirigidas pelo Estado no centro das suas tramas – Esquadrão de Execução (Vanzina 1972), Profissionais Violentos (Martino 1973), Policial Assassino (Ercoli 1975), Ação Silenciosa (Martino 1975). Abordando os debates em curso sobre o cinema popular (filone) italiano (Fisher 2014, 2019; Marlow-Mann 2013; O’Leary 2011), este artigo questiona a possibilidade de usar esses filmes como documentos históricos, conectando-os aos discursos da mídia em torno da chamada estratégia de tensão, uma série de ataques terroristas com o objetivo de aumentar artificialmente a tensão política na Itália. Posicionando os filmes como textos intermediários (Rajewski 2005), é possível identificar estratégias representacionais e interpretativas compartilhadas entre a serialidade dos jornais italianos e a desses produtos de género de baixo orçamento e produção rápida. O uso dos meios de comunicação como dispositivos e a reelaboração das narrativas dos meios de comunicação nos filmes inserem-nos num “ritual político” (Elliot, 1981) elaborando tanto o trauma relacionado com os resultados dos ataques terroristas como a raiva pela falta de ação eficaz do Estado contra eles. Esta abordagem lança uma nova luz sobre produtos muitas vezes rejeitados pela crítica, indo além de interpretações que se concentraram principalmente na natureza derivada dos filmes de género italianos. Em vez disso, pretende situá-los como um lugar de negociação para a atribuição de culpas pelas falhas do Estado italiano na luta contra o terrorismo.
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Direitos de Autor (c) 2023 Giulio Olesen

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Artigo aceite em 2023-07-26
Artigo publicado em 2023-09-21