Os ritos de passagem no cinema de Yasujiro Ozu
Rites of passage in the cinema of Yasujiro Ozu
Resumo
Yasujiro Ozu desenvolve a narrativa dos seus filmes em torno de ritos transitórios na vida das personagens. Para Ozu, a família é o núcleo de sustento da casa e é a sua estabilidade que é colocada em causa. O presente artigo pretende associar, pela proximidade ao quotidiano e à vida em comunidade das personagens de Ozu, as ameaças à estabilidade na casa familiar aos ritos de passagem identificados pelo antropólogo alemão Arnold Van Gennep. Van Gennep define “ritos de passagem” como as cerimónias que acompanham as “crises de vida” de um indivíduo. E, também, especialmente nos filmes em torno do casamento das filhas, ao estado de liminaridade ou margem desenvolvido pelo britânico Victor Turner. Nestes, o conflito principal é centrado na dificuldade de mudança da personagem, por causa de um ritual que não se cumpre ou que será, à luz da sociedade e dos valores da época, tardiamente cumprido. É a tensão entre a modernidade e a tradição que coloca as personagens em um estado liminar, dando origem a um sentimento de lenta separação, de “não estatuto”, e de “tardio”. Nestes filmes (Primavera tardia, Verão prematuro, O fim do outono, O gosto do saké), Ozu ilustra o desejo confesso em retratar o ciclo da vida ou a mutabilidade em vez da ação em si.
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Direitos de Autor (c) 2022 Hugo Martins
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Artigo aceite em 2022-02-26
Artigo publicado em 2022-02-26