Perspetivas artísticas das corporalidades agenciais (in)orgânicas no laboratório científico
Resumo
As teorias pós-humanistas e pós-antropocêntricas questionam os valores do humanismo que perpetuam o domínio humano e a visão dual do mundo. Desta forma, concebem a natureza-cultura como um continuum, e não como uma dicotomia, afirmam que a matéria faz parte da cultura e da tecnologia, e rompem com a ideia do ser humano como espécie suprema na cadeia evolutiva. Dentro desta esfera de princípios, cabe a teoria do Novo Materialismo, mais especificamente o Realismo Agencial, de Karen Barad, que defende uma performatividade pós-humanista em que as matérias, humanas e não-humanas, têm agência e são dinamicamente intra-ativas, permitindo uma reconfiguração contínua do mundo. Com o intuito de estruturar uma convergência teórico-prática, o presente artigo procura articular a teoria de Barad com aspetos da arte contemporânea. Numa primeira parte, estabelecendo ligações com as práticas artísticas em laboratórios científicos, atendendo, particularmente, às microagências e às dinâmicas de microperformatividade. Na segunda parte, dando relevo às encenações laboratoriais em exibições artísticas, aos instrumentos e aparatos científicos utilizados e aos aspetos de biomedialidade inerentes. Conclui-se que as práticas artísticas e curatoriais mencionadas são elementos de mediação importantes no estabelecimento de uma articulação e entendimento entre a teoria do Realismo Agencial e as práticas laboratoriais, não raramente, inacessíveis para o público. Comportando, desta forma, a possibilidade de conhecimento e discernimento dessa reconfiguração contínua do mundo, a partir de uma perspetiva díspar da narrativa padrão que posiciona o ser humano como epítome do devir do mundo.
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Direitos de Autor (c) 2023 Sandra Silva
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Artigo aceite em 2023-07-30
Artigo publicado em 2023-07-30